Bullet and Blood

Cena 1 - Voltando da Folga...

Um novo dia começava mais uma vez. Tudo estava perfeito, o mar bem próximo, a paz, a tranquilidade. Nada incomodava mais a paz de espírito daquele homem. Mesmo que as constantes lembranças da perda de seus entes queridos, pai e mãe, viessem periodicamente, tudo aquilo era passado. Afinal, nem mesmo museus viviam de passado agora. O passado é passado e o presente é sombrio. Tão sombrio que uma ligação não esperada rompe o seu sono. O sonho era perfeito e se não fosse aquela música como alerta do aparelho eletrônico, ele poderia se tornar muito melhor após aquela mulher terminar de tirar a roupa.

A vista embaçada não deixava ele enxergar direito o nome no visor do aparelho, mas mesmo assim, pelo toque, ele sabia que era alguém importante do esquadrão. Talvez até o comandante.

“Porque sempre na melhor parte do sonho algum filho da puta interrompe...“

Então percebo aquele toque e minha animação diminui mais ainda, se é que isso era possível, só o que eu queria hoje era dormir até tarde, tomar café da manha na hora do almoço, jogar um pouco de futebol americano com os amigos, e a noite tentar tornar o sonho de hoje em realidade... Mas pelo jeito todos os meus planos foram por água abaixo só com esse telefonema:

-Alô...

Minha voz sai embargada pelo sono seguida de um sonoro bocejo.

-Quem fala...

Mesmo tentando disfarçar o sono na voz, não consegui, e nem a mesmo a rispidez derivada da raiva de ter sido acordado na melhor parte do sonho foi contida nessa frase.

Cena 1 - Voltando da Folga...

A voz daquele que mais lhe tirava a calma atravessa o telefone: Simons, o sargento rabugento. Ele diz:

- Jason? Gostou das férias? Parece que você saíu há dois anos... Mesmo sendo somente cinco dias, parece que foi uma eternidade. Mas bem, precisamos de você agora. A central nos mandou um código vermelho e eles indicaram você.

Jason sabia que aquele cara era muito invejoso. Já temia tomar uma bala somente pela inveja.

-Entendido Simons, já to indo. E boa sorte, quem sabe na próxima não indicam você.

Falo a última parte com certo deboche e desligo o telefone sem mais delongas, se ele queria tanto estar no meu no lugar ele que se esforçasse mais, ao invés de só ficar enchendo o meu saco, odiava gente do tipo dele, me levanto sem muito animo, e vou direto para o banheiro para fazer minha higiene pessoal, tomo um banho com água gelada pra acordar, e me visto rapidamente, pego minha Glock, e mais um pente de munição, sempre levava ela comigo, deixava minha Eagle guardada pra ocasiões especiais, dentro do meu armário na base, e meu fuzil preparado e com munição extra no meu Cadillac, assim que estou pronto vou direto para meu carro, do um “oi“ educado para meu vizinho chato que ainda lança uma tentativa de piada sobre eu acordar cedo, quase o mando ir tomar no... Bem deixa pra lá, a culpa não era dele que eu “tava“ com raiva, na ida passo na Star Bucks, e compro um café grande e bem forte, além de uns doces para o desjejum, dou em cima da atende e levo um fora educado, como sempre, como tudo no caminho até a central, e ao chegar vou indo direto até o comandante para saber dessa missão, e apesar de não estar muito animado, cumprimento os conhecidos.

Cena 1 - Voltando da Folga...

Chegando no departamento das Forças Especiais, você percebe que todos olhavam estranho para você, mesmo que lhe cumprimentassem. Você até achava aquilo normal nos primeiros olhares, já que estava de mal humor. Mas logo tudo aquilo começa a te incomodar.

Assim que Jason chega na sala do Comandante Morgan, este lhe atira um olhar satisfatório enquanto outras três pessoas que estavam na sala dele se impressionam ao lhe ver. Talvez, pela expressão, ele achasse que você não fosse vir tão rapidamente. Daqueles que se encontravam no local, você só conhecia duas pessoas, um que eram um perito criminal e uma mulher que era legista. O ultimo era um completo desconhecido, trajando um terno fino e com um ar completamente desconfiado. Logo o comandante puxa assunto:

- Capitão Jacson! Muito bom lhe ver nesta manhã agitada. Sente-se por favor, temos que conversar sobre assuntos muito importantes. - ele olha para os outros e complementa - Por favor, preciso ter uma conversa privada com o Capitão.

Assim que solicitado, os outros se retiram. Aquele homem que estava bem vestido lhe encara até passar por você como se lhe enfrentasse.

Sustento o olhar daquele almofadinhas o que somado a minha irritação atual, deve ter parecido uma ameaça e então quando todos saem eu falo:

-Bom dia Morgan. Então, qual o problema dessa vez?

Pergunto num tom cansado e meio informal, normalmente falava de modo mais educado, mas naquele momento não tava com saco pra isso.

Cena 1 - Voltando da Folga...

O comandante segue até a cadeira dele enquanto você se senta. Ele não diz nada até que todos saiam da sala, então você faz a pergunta e ele sorri, mas com um sorriso um tanto quanto sombrio. Antes de lhe responder, ele pega um charuto em uma caixa que ficava na primeira gaveta de sua mesa. Com fósforo ele começa a acender aquele negócio fedorento enquanto dá uma prévia do assunto:

- Capitão, o assunto que temos a conversar é complicado, sério e de suma importância para o nosso país. Por isso não deverá sair desta sala. Para você ter noção do que eu falo, o nível de sigilo é presidencial.

Ele interrompe o que dizia para terminar de acender aquele charuto.

Quando ele fala aquilo minha atenção é totalmente tomada e a irritação praticamente some, afinal uma missão dessas poderia aumentar muito o meu soldo, e diminuir bastante meus anos de serviço, me endireito um pouco na cadeira e falo sério:

-Sabe que mesmo se fosse uma missão simples não contaria para ninguém. Então não se preocupe, prossiga.

Cena 1 - Voltando da Folga...

Ele sorri com seu comentário. Era explícito em sua face como ele confiava em você, talvez pelo seu histórico na organização, ou talvez por alguma dívida do passado, mas no fundo você sabia que era por sua devoção ao serviço e por ser tão patriota. Ele continua:

- Sim, entendo. Posso resumir, antes de entrar em detalhes, que você terá um grande problema pela frente... Mas que resolvido, será um portal para sua aposentadoria... Claro, se assim desejar. Pois não estamos brincando, estamos falando de Juan Marques. - Ele dá uma pausa para fumar, em seguida continua - Ninguém menos, que o Senhor das Armas, como ele é chamado na América Central. O cara está aqui e pelo que ouvi dizer, quer acabar com a Casa Branca e toda a estrutura dos EUA, provocando uma guerra sem precedentes.

Ele aguarda sua reação fumando mais uma vez. A fumaça fedorenta daquele charuto começava a empestear a sala.

Fico processando as informações que ele me passa, e então falo:

-Sem duvidas não é uma simples missão de assassinato, mata-lo sem desmantelar a organização antes poderia causar danos piores, provavelmente está deve ser uma missão de infiltração, espionagem e assassinato. Estrangular as forças dele de dentro pra fora... É fácil falar...

Isso era mais uma reflexão, mesmo podendo estar errado, e então a após a resposta dele continuo:

-E qual o objetivo dele com a guerra? Com certeza não deve ser vender armas para nós. É como tentar vender areia no Saara.

Cena 1 - Voltando da Folga...

Com um sorriso no rosto o comandante lhe responde:

- Não. Assassinato está fora de cogitação. Na verdade, ele tem que ser capturado vivo e julgado. - Ele dá uma pausa para fumar, em seguida continua - E seus planos ainda não uma incógnita para nós. Mas o que mais posso lhe dizer? O cara era procurado vivo ou morto por nós, ele sempre está abusando das "facilidades" do nosso sistema, sem falar que ele matou o nosso ultimo presidente. Ao que alguns dizem, a família dele foi morta aqui nos EUA por resistir à prisão, descato, agressão e tentativa de homicídios, quando foram impedidos de ficar no país ilegalmente.

O comandante continuava a fumar aquele charuto.

“Droga, vivo é mais difícil... E se vai pra julgamento vou ter que maneirar na tortura, isso se eu tiver que usa-la.“

-Se quiser posso faze-lo falar os planos dele, como ele vai a julgamento iria precisar de umas duas horas, para não deixar vestígios... Ainda poderíamos conseguir outras informações como parceiros e fornecedores, sem a necessidade de barganha. Bom, é só uma idéia...


A verdade é que fazia muito tempo em que eu realmente não torturava alguém a maior parte do criminosos hoje em dia apela pra barganha, e sou forçado a ouvir meus superiores e não, fazer do modo certo. Na minha opinião é jogar anos de treinamento em tortura no lixo, odiava barganha, e odiava ainda mais advogados.

-Família complicada essa, mas bem, como vai se dar a infiltração? Temos alguém lá, ou vai ser uma missão sem apoio?

Cena 1 - Voltando da Folga...

Ele concorda quando você fala sobre a família de Marques, mas logo lhe informa o que poderia ser mais temeroso na missão:

- Capitão, não estamos falando de uma missão simples, ou de algo realmente explosivo. Estamos falando de uma longa missão de infiltração, com grande perigos, e de grande importância nacional. - Ele dá uma breve pausa, olha para o teto e volta a olhar para você tragando aquele charuto. Logo ele continua - Você terá de se infiltrar na organização mais perigosa da América, terá de se tornar confiável por eles, descobrir todos os seus planos e arrumar provas para incriminarmos o safado. Em seguida irá criar uma oportunidade para pegarmos ele no flagra e toda a central vai se deslocar até o local marcado para acabar com esse filho da puta.

Ao final das palavras dele, já sem fôlego, o comandante se preparava para dar outra tragada.

-Entendo... Eu aceito essa missão, vou dar o melhor de mim nela, e com certeza vamos pega-lo a tempo.

Esse não era bem meu tipo de missão, já havia feito infiltrações antes, mas nunca uma muito longa, infiltração era algo muito perigoso, desde o modo de falar, até o andar, a mira, todas as pequenas manias que um militar treinado ganha ao longo da vida, são difíceis de serem policiadas e disfarçadas, mas fáceis de serem percebidas, um erro poderia botar tudo a perder, mas eu não sou do tipo que comete erros. Fico aguardando a resposta dele, e principalmente os dados da missão, quanto mais dados mais fácil e mais perigosa a missão se tornava, afinal dados demais, podem lhe dar um conhecimento anormal sobre os alvos, que poderiam facilmente perceber isso, e aí seria tarde.

Cena 1 - Voltando da Folga...

Satisfeito com a sua resposta, ele diz:

- Então tente relaxar. Vá para sua casa, durma durante a tarde, faça o que quiser, mas acima de tudo descanse. Amanhã de manhã você parte para New York. O relatório e todos os dados da missão estão dentro de um envelope que eu deixei na portaria, com o seu nome. Para que ninguém dentro do DP saiba que eu lhe passei algo do tipo. - Ele dá mais uma tragada, agora profunda - Sabe como são as coisas... Você vai sair da minha sala e todos vão olhar para suas mãos procurando saber o porque de eu ter lhe tirado da folga.

Com um simples movimento ele apaga o charuto em um cinzeiro grande que tinha na mesa dele. Ele estava na metade e aparentemente iria ser guardado para mais tarde.

-Certo Senhor, então já vou indo.

Meu humor havia voltado e estava muito bom agora, o resto do dia de folga, e uma missão de grande calibre logo em seguida, era uma ótima programação. Me levanto de forma educada e me preparo para sair antes de sair eu digo sorrindo um pouco, era um sorriso que só mostrava minha auto confiança, e principalmente minha excitação com a missão:

-Até logo. E não se preocupa, vai dar tudo certo.

Saio da sala dele, e vou indo embora da central sem falar muito com ninguém apenas cumprimento os conhecidos, e evito falar sobre o que aconteceu dentro da sala para os mais curiosos e caras de pau que perguntaram, ao chegar na portaria, discretamente pego o envelope evitando chamar a atenção dos outros, entro no meu carro e pego o caminho direto para minha casa, devo ter passado um ou outro sinal vermelho mas foda-se.

Cena 1 - Voltando da Folga...

Assim que se aproximava da sua casa, pelo retrovisor, Jason percebe um carro chegando perto do carro dele. Seus instintos logo lhe deixam de prontidão, pois essa aproximação aparentava ser estranha demais. Logo ele percebe o farol do carro piscando. Uma, duas, três vezes. Depois o carro de trás liga a seta direita indicando que iria pegar o próximo desvio. Mais adiante Jason notava a placa de sinalização:

DOCAS ======>

O carro se aproximava da pista à direita para entrar no retorno.

Verifico minhas armas e minha munição, não sabia se seguir aquele carro era uma boa, mas algo me dizia que poderia vir a ser importante, por precação escondo a pasta com os dados da missão e me direciono para as docas mantendo certa distância daquele carro e observando os arredores para evitar cair numa armadilha pior d que a que poderia estar por vir.

Cena 2 - As Docas

Ao seguir aquele carro, Jason parecia estar sendo tomado pela crescente quantidade de adrenalina que seu corpo produzia. Ele estava nervoso, mas ao mesmo tempo ansioso. Chegando em um ponto distinto das docas, atrás de um galpão aparentemente sem movimentação noturna, o carro pára. De dentro dele sai uma mulher e aquele cara que estava de feições latinas. Sua pele era um moreno claro, talvez queimado de sol, seus cabelos eram castanhos e seguiam um zigue-zague encaracolando até a altura de sua cintura, seus olhos eram quase que amendoados e de cor castanho claro como o mel. Seu corpo era escultural e além de toda aquela beleza natural, ela também vestia um longo vestido negro que cobria todo o seu corpo até pouco acima dos joelhos. O decote era singelo, mas mesmo assim despertava curiosidade para aqueles volumosos seios.

Ela se coloca de lado ao carro dela, puxa um maço de cigarros ultrafinos e acende um enquanto aguardava você chegar, parar e descer do carro.

“Uaauuu... Não espera, concentre-se, olha a situação em que você está!“

Penso enquanto mecanicamente verifico mais uma vez minha Glock, e guardo sobre a roupa, coloco meus óculos escuros e saio do carro sorrindo de forma confiante, como se nada pudesse me atingir, apesar de saber que era justamente ao contrário, a gente aprende a blefar nesse tipo de situação, depois da terceira ou quarta vez... Por de trás dos óculos dou uma olhada melhor naquela linda mulher e não podia negar que se eu fosse cumprir meus planos matinais, ela com certeza, estaria neles agora, mas amanha começa a missão, então esqueço o futebol com os amigos e levo ela pra cama de tarde. Claro se isso não for uma armadilha, se eu não morrer e se ela não for uma inimiga... Pensando bem mesmo se ela for inimiga... Me apoio no meu carro e falo:

-Então, a que devo a honra de estar em sua presença?

Finjo ignorar completamente o outro cara, mantendo meu rosto virado para ela, embora meus olhos percorressem todo o perímetro, por de trás do óculos, escondendo essa minha cautela.

Cena 2 - As Docas

Aquela mulher olha em sua direção. Enquanto tragava ela sorria e deixava soltar a fumaça de forma provocativa, sndo sensual em todos os seus movimentos. O cara que a acompanhava estava ainda dentro do carro, o que era suspeito pois assim não poderia lhe dar visão completa do que ele estava fazendo.

Ela aguarda a sua aproximação para dizer:

- Honra? Que honra teria um agente ao encontrar comigo?

Ela sorri enquanto traga mais uma vez. Após soltar a fumaça ela continua:

- Baby, você não sabe no que está se metendo. Acho melhor você recusar o trabalho...

Ela aparentava saber demais e isso lhe alerta um pouco. O homem dentro do carro acende um cigarro. As movimentações dele eram mínimas, quase como se fosse somente um motorista.

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-Não disse como agente, disse como homem, não é todo dia que uma mulher como você vem falar comigo, normalmente eu tomo a iniciativa.

Falo de um jeito meio sedutor e então continuo mais sério, mantinha meu rosto virado pra ela, embora meus olhos estivessem ainda vasculhando o local, usando e abusando da minha visão periférica.

-Nunca recuso um trabalho... Porque deveria fazer isso agora?

Cena 2 - As Docas

Aquela mulher dá um breve sorriso e olha como um predador olharia para sua presa. Com um tom meigo e promíscuo na voz ela diz:

- Iniciativa? Mal nos falamos e você já cheira a testosterona... Seria isso uma vontade indomável de me levar para a cama?

Ela ri baixinho enquanto traga mais uma vez e solta a fumaça lentamente, dando um ar mais sedutor ainda pelos movimentos da boca dela. Em seguida, ela continua:

- Trabalho é trabalho. Te entendo neste aspecto... Mas, convenhamos que isso não é nada normal... E que aquele que você procura não é alguém que ande sozinho. Não haverá oportunidades de você concluir a missão, isso é suicídio.

Ela olhava atenta nos seus olhos. Enquanto aguardava sua reação ela continuava a fumar. Sempre de forma sedutora, senão promíscua, se insinuando toda vez que colocava a boca no filtro do mesmo.

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-“Seria“ não, é.

Falo sorrindo de forma maliciosa para ela e então continuo:

-Fico feliz por estar preocupado comigo, mas como você disse, trabalho é trabalho, e minha especialidade é cumprir missões que os outros julgam suicidas, se não fosse assim, não teria sido escolhido.

Tinha que admitir, ela sabia provocar um homem, na verdade ela nem precisava de tanto para deixar um homem aos seus pés e ainda sim exagerava daquele jeito que estava realmente começando a me afetar. Ainda mantenho minha vigilância por de trás dos óculos, mas vez por outra meus olhos voltavam para ela, apesar de ainda me manter bem atento ao meu redor.